Não dá pra tudo rimar

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016


E se eu surtar de novo?
Promete que vai ficar?
Dizendo nem que seja apenas
Calma, passarinho!
Você é importante demais
Pra querer correr mais que a vida.

O Sol há de raiar.
A luz vai te invadir o quarto gelado.
As pupilas dilatadas.
A mente.
A alma.
Você pode tudo, passarinho!

Há de sair do ninho.
Espairecer!
Crescer!
Florescer!
Repor as estruturas
E seguir.

Confia na tua luz, passarinho!
Que ilumina o céu
E você já é fênix.
Outra vez.
E se eu surtar de novo?
Recomeça o voo?



Dos comprimidos que engoli a seco

domingo, 28 de junho de 2015


Não há tarja preta que me segure. Quando se está no fundo do poço, chegamos a nos iludir achando que não dá para ficar pior. Mas quanto mais a gente cai, mais percebe que é possível cair. Eu estou em queda livre. Meu mundo desaba todo o maldito dia. Todo amanhecer é um fardo. Durmo sob o efeito dos comprimidos. Acordo ''para'' a realidade e ela continua cruel. Sim, os outros podem e são, demasiadamente, cruéis com o que sentimos. Não importa o quão grave seja nossa dor, só veem como drama. Ou que você está exagerando. Até te encaixam em rótulos para te julgarem ainda mais. Duvidam do que sente. Você agora é reduzida à uma obsessiva-possessiva-compulsiva. Meu deus. A louca.

De um tempo pra cá, me vi transformada em uma hipocondríaca. Eu, que odiava remédio, passei a adorar tomar comprimido. Pra tudo. Tinha dores de cabeças terríveis e severas, por isso devo ter tomado todos (ou, pelo menos, a maioria) dos mais diversos comprimidos do mercado para este mal. Já a minha ansiedade extrema me fazia (e ainda faz) tomar sulfa como calmante, mesmo sabendo das consequências do seu uso constante e descontrolado.

Ia tomando outros remédios para o estômago, gripe, mais uma para alguma dor muscular insistente e assim a bolsinha de remédio enchia cada vez mais e era preciso ser trocada por outra maior. E maior. E maior ainda.

Na maioria das vezes, engoli meus comprimidos querendo engolir minhas infernais dores mentais. Eu poderia nem estar sentindo uma dor física de fato, mas tomava pelo relaxamento que aquilo me causa e que continua causando. Ainda sim, nenhum deles me traz o efeito desejo. Nem mesmo os comprimidos da felicidade, os que deveriam me trazer calma, paz, tranquilidade. Um sono, certo tempo dopada e altos lapsos de memória. Sem mais. Nem menos. Eles não trazem minha vida de volta. Meus comprimidos não são mágicos. São caros. Exigem rotina e responsabilidade, o que nem faço ideia do que queira dizer neste exato momento. Não tenho a mínima regularidade em horários. Emendo remédios ''perto'' um do outro ou até tomo com refrigerante. Algo bastante saudável, não é?


Certa vez descobri que o remédio que uma neurologista havia me receitado para minhas enxaquecas crônicas era um anti-depressivo, passei a toma-lo quando tinha a vontade absurda de querer fugir do mundo. Incontáveis foram as vezes que o tomei para me desligar deste plano. Dormia por um dia seguido, basicamente. Sem sair da cama, nem nada. Creio que, a partir dali, eu me joguei de cara num processo depressivo sem volta. Passavam-se os dias, as semanas e eu na mesma situação deplorável. Daquelas de causar pena mesmo, sabe? Mas eu ficava ali, trancafiada num espaço minúsculos, que mal cabia meus pensamentos desprezíveis, muito menos meu corpo que, aos poucos e assustadoramente, ia definhando.

Agora, o efeito do coquetel de hoje já começa a bater. Abater-me. Mais uma vez. Por completo. Os olhos pesam como guilhotinas. Eu estou retalhada. Visão turva. Como se tudo girasse ao meu redor. Cada vez mais veloz e furioso. É hora de deitar. Amanhã todo martírio retorna.

Só mais um desabafo numa madrugada inquietante

domingo, 11 de janeiro de 2015


Faz algum tempo que não escrevo como antes. Muito provavelmente ando procrastinando além da conta. Eu sempre tive (e ainda tenho) esse medo besta de não conseguir escrever. Medo de não mais ter a capacidade de me expressar através das palavras. Tenho medo de me perder no vazio da folha em branco. Isso me assusta bastante. Não que eu esteja dizendo que sou uma ótima escritora, porque, realmente, não sou. Para começar, nem escritora de verdade eu sou. Não passo de um projeto mal sucedido e, exageradamente, tendencioso. Afinal, que tal escritora é esta que sequer consegue parar para escrever um mísero texto? Que escritora é que esta, que quando volta a escrever, fala (mais uma vez) sobre o fato de não conseguir escrever? E pior: Que tipo de escritora é esta que repete o verbo ''conseguir'', no mesmo parágrafo, de maneira a sufocar o leitor com tamanha falta de léxico?

Mas eu pulei a linha. Virei a página. Não que isto soe clichê como esta parecendo e por mais que tema as mudanças, estou sempre mudando alguma coisinha aqui e ali. Mesmo sem perceber. Mesmo sem querer. E o ano virou. Será que, enfim, eu vou virar alguma coisa (ou alguém) que preste? O que mais me aguarda daqui pra frente? Idealizo o futuro mais do que deveria. Não passo de uma sonhadora irremediável. Um tipo escroto de pseudo-escritora, que insiste em escrever sobre si mesma, quando, bem lá no fundo, ninguém está nem aí para o que ela (eu) vive ou deixa de viver. Preciso aprender com a dura e cruel realidade da existência. É necessário quebrar a redoma que me cerca e me protege da indiscutível sujeira do mundo. Mas é que eu também sou suja. Todos nós somos. Humanos não escapam desta condição.

É queria entoar um discurso bonito e otimista para este ano que ainda está só no seu começo, mas é que no momento isto não é possível. Estou pairando no meu estado de espírito corriqueiro, onde uma nuvem negra cobre minha cabeça no decorrer de todos os dias. Passo por oscilações absurdas de temperamento. Nem sei descrever direito e em detalhes eficientes o que acontece aqui dentro de mim. Só tenho uma grande certeza: Há caos. Assim como se pode perceber em uma relevante parcela dos meus escritos.

Talvez eu até goste de nomear minha escrita como cortante (ou algo parecido), porque palavras alegrinhas, estampando uma felicidade ilusória nunca foram meu forte. Quem sabe more aí mais uma razão para o fato de eu não conseguir escrever quando estou feliz. Realmente, não sai nada que eu considere minimamente bom. Talvez meus padrões sejam muito altos. Talvez eu apenas superestime meu fajuto dom para escrever. Talvez eu não seja nada disso.

Agora já posso dizer que falta menos de meia hora para duas da manhã e que só porque é mais uma madrugada inquietante, que o anseio incontrolável para escrever resolveu dar sua cara à tapa de luva de palavras? Escrever me acalma. Pôr para fora sentimentos angustiantes me acalma mais ainda. O que deveria falar, eu falo, mas em texto escrito e bem pensado. Ou não. 

Quando falo na lata saem coisas impensadas. Tudo aparenta soar como ofensa, mesmo quando você só quer gritar por socorro e desabafar. Pedir ajuda é mais difícil. Sempre. Quando a gente acostuma com o que dói, estender a mão e buscar alguém que nos puxe do fundo da lama é como uma tarefa impossível. Atitude egoísta? Não é isso. É falta de costume e de experiência em saber como lidar com quem, realmente, entenda o que você sente. Eu (re)encontrei um alguém incrível que me escuta, que diz a verdade que não quero ouvir, de tão verdadeira que ela é. Eu poderia contar mais como as coisas estão indo, para então desafogar um pouco o peito ardente, mas preciso dormir. Ando dormindo mal como sempre. Meus joelhos doem como nunca. É hora de esticar o esqueleto e tentar relaxar a alma. Até.

Vem, 2015! Eu estou aqui!


Contigo desci ao meu inferno

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Contigo desci ao meu inferno. Ao inferno da carne, do corpo em chamas por ti. Do eu e você em um único e incandescente fogaréu. Ao inferno que é perdição entre deuses e meros mortais, tão mortais assim como eu, que sou osso, palavra e amor.

Contigo, que fiz meu deus reencarnado em pele de sedução, me atrai aos céus, onde fisgada por tua beleza tão viva, vi meu reflexão confundir-se com as curvas despretensiosas que teu sorriso resplandecia no meu sofrido lago de paixões.

Nas águas incontroláveis onde repousei e ousei modernizar a poesia de outrora. Ousei falar de ti como jovem que pulsa e segue fervilhando. Ousei usufruir da imensidão de Afrodite. Reinventando a deusa de vestido e All Star. Reinventado assim como querer que amanhece e anoitece pairando sobre o pensamento teu.

Não sei mais se sinto ou vivo a te sentir tão pleno em mim. Inspiração te tornei assim que bebi da fonte inebriante da tua voz que partia a preencher todo o vazio mundano no meu ser rasgado em mil. Os mesmos mil poemas que te dedicaria sem receio algum. Essas palavras que não mais me pertencem. Palavras antes minhas, agora suas, assim como minha alma que clama e deseja descaradamente o ser tão poético e admirável que tu és aos meus olhos, esses olhos que estão a te despir sob a luz dessa tela de pintar versos que ecoam teu nome.

Professoras Dalu Menezes e Lenha Diógenes, MUITO obrigada pela inspiração e a oportunidade que a oficina dos deuses me concedeu. 
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