Daqui.
Ao som de ''Down em Mim'', do Cazuza.
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Acordei mais cansada do que quando fui dormir na noite
anterior. Acordei inundada por um sentimento horrível, que teimava em contrair tudo que de
bom ainda existia em mim. Acordei péssima, doente, exausta, esbaforida e com
vontade incontrolável de gritar para o mundo toda a minha dor. Mas eu não sei
gritar. Eu não consigo gritar e arrancar daqui tudo o que me machuca e me
corrói. E não sei por qual razão eu ainda insisto em sorrir para a felicidade.
Eu nasci para tristeza e ela é a única capaz de me entender como deve ser.
Porque eu sou do choro, daquela singela lágrima entalada na
garganta.
Eu sou da raiva que não pôde ser esbravejada.
Eu sou da solidão que impregnou na minha carne, na
minha alma, no meu ser.
Eu sou da loucura disfarçada de sanidade.
Eu sou do
descontrole mascarado de ‘‘eu sei o que estou fazendo, me deixa em paz’’.
Eu
sou do sofrimento que não tem motivo para o mundo que me corta em pedacinhos.
Eu sou dos sorrisos para ninguém perceber o que há de errado em mim.
Eu sou da
frustração que não se mede com régua nem fita métrica.
Eu sou da decepção com
tudo e todos.
Eu sou da angústia até a borda do copo.
Eu sou do ódio que não
sei explicar.
Eu sou do ‘‘eu sei que nada sei, mas ainda juro que sei tudo.’’
Eu sou dos elogios que não sei receber.
Eu sou do mau humor que não sei guardar.
Eu sou do nojo que me deixa mais imunda do que sou capaz de aguentar.
Eu sou da inveja por um potinho de felicidade que jamais será meu.
Eu sou do
instinto suicida. Eu sou dos pulsos cortados.
Eu sou do botão de autodestruição.
Eu sou dos
impulsos momentâneos.
Eu sou do calor que logo esfria.
Eu sou das cobranças
pessoais.
Eu sou do medo.
Eu sou do pessimismo.
Eu sou da insistência ao pé da letra.
Eu sou do exagero, aquele que se joga aos seus pés.
Eu sou do orgulho com pose de esnobe.
Eu sou da teimosia de cara virada e
revirada.
Eu sou da instabilidade.
Eu sou dos pensamentos em chamas.
Eu sou do
corpo quase morto quase vivo.
Eu sou oito ou oitenta.
Eu sou da poesia autodepreciativa
que você não vai querer ler.
Eu sou das críticas que você não vai querer ouvir.
Eu sou das palavras que não tive coragem para proferir.
Eu sou do coração que
se afoga em sangue e lamentações.
Eu sou do drama.
Eu sou dos socos na parede.
Eu
sou das dúvidas e carências infinitas.
Eu sou dos desejos reprimidos.
Eu sou
das meias furadas e meias partidas.
Eu sou da necessidade de sumir sem avisar.
Eu sou da nuvenzinha negra que paira em torno da minha turva cabeça.
Eu sou da escrita
que flui melhor em dias ruins.
Eu sou assim ou mais ou menos por ai.
É horrível se sentir assim, mas sinceramente concordo plenamente com a frase "a escrita que flui melhor em dias ruins", pois este texto ficou maravilhoso!
ResponderExcluirBeijos, INconvencional!
Parece que eu sou é, além de tudo, de tristeza.
ResponderExcluirhttp://doisquintos.blogspot.com.br/
- Caraaaaaaaamba, menina! Tu manda bem demais. desculpe o termo, mas.. Puta que pariu, hein! Amei cada palavra. Continue assim. *-*
ResponderExcluirMuito bem escrito, sou a favor de expressar exatamente o que se sente, em um mundo de disfarces, ser sincero por meio das palavras também me liberta.
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