8 de março: Não é um dia de festa.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Olá, leitores e leitoras do blog! Vim aqui para dizer que gostaria de pedir desculpas, pois ontem não foi possível postar nenhum texto do especial sobre 8 de março. Espero que compreendam. Mas hoje, prosseguiremos com essa iniciativa, que irá também continuar acontecendo no decorrer dessa semana. Obrigada pela atenção e tomara que vocês acompanhem tudinho!!! Beijos e abraços da blogueira do DEScomplicando, Lene Santos. 

Indiretas Feministas.
Para que serve o feminismo? Tem sempre alguém abordando feministas em busca desta resposta. Sempre alguém faz essa meio retoricamente, com um sorrisinho de desprezo nos lábios, geralmente cheio de privilégios, com a resposta na ponta da língua. Muita gente escreve sobre o assunto. Eu por um tempo me neguei a fazê-lo por achar que talvez o que eu tivesse pra dizer fosse já dito por muita gente. 

Pensando na condição da mulher historicamente: a opressão à mulher tem na sua base a ideia de capital. O capitalismo legitima toda e qualquer opressão através da ideologia, que é o que regulamenta com regras de conduta o que é aceitável ou não. Igreja tem grande poder nisso, todos e todas nós sabemos disso. 

Desde que nos conhecemos por gente nos deparamos com situações opressivas que só dizem respeito ao que o patriarcado chama de mulher. Meninas devem se vestir do jeito x, falar do jeito y, sentar de pernas fechadas, não podem andar com meninos nem ficar muito próximas a eles. Isso se intensifica ao longo da vida, quando então mulheres são moças, e moças devem ser respeitáveis, agirem como suas avós 
geralmente pregam, mas não o fazem, e pregam não porque se beneficiam do machismo internalizado, mas porque não contestaram essas coisas, mas porque são justamente alienadas pelo patriarcado o suficiente para fazê-lo assim. Ah, a liberdade sexual feminina e tudo o que diz respeito ao corpo feminino. Quem nunca ouviu falar que mulher que não se depila é nojenta? Quem nunca viu ninguém jorrar gordofobia como um gosto estético somente, não um doente padrão imposto pelos meios de comunicação e indústria da moda? Sabemos que crianças reproduzem esses valores, sabemos o quanto é difícil superá-los. Por isso o feminismo existe. 

O conceito de gênero dentro do patriarcado é uma coisa que me incomoda imensamente. Mulheres trans não são mulheres o suficiente porque têm pênis, mas não são homens o suficiente porque são afeminadas. Sempre esse binarismo escroto que deixa todo mundo louco em busca de encaixe, e eu tô falando de sobrevivência mesmo, de não ser agredida na rua, de conseguir arrumar um emprego pra comer e não ter que fazer o que a maioria das mulheres trans têm de fazer: se prostituir.

A prostituição é uma coisa que me deixa extremamente intrigada. Dentro do que eu entendo de mundo, não passa de estupro pago. Cultura do estupro: quem nunca ouviu ninguém dizendo que fulana merecia ter sido assassinada pelo marido/ficante/casinho porque o traiu? Ou fulana que saiu de saia curta na rua, que merecia também, porque a culpa é dela se ela “instigou” desejos masculinos, que, é claro, estão sempre em primeiro lugar. A violência machista naturalizada é um dos pilares da ideologia burguesa. 

A monogamia compulsória, junto com a heterossexualidade compulsória,  de quebra, que amassa a possibilidade das pessoas de se relacionarem como for mais agradável a elas também está aí pra nos mostrar o quanto o feminismo é necessário. Feminismo não somente diz respeito à sexualidade livre reivindicada, mas a espaços historicamente negados a nós dentro dessa sociedade que é por essência misógina. O que é misoginia mesmo? Misoginia é o ódio indiscriminado por mulheres, culpabilização das mesmas. Quem nunca ouviu que mulher é “bicho incapaz de ter relações de amizade entre si” quando na verdade essa competitividade é imposta por essa estrutura de poder já que o que sempre está no centro de tudo é o homem?

A lesbofobia em todos os lugares possíveis, com pais pedindo a suas filhas que sejam qualquer coisa, até, putas, menos lésbicas, porque isso é uma vergonha imensurável, uma lástima,  o fim da humanidade? É o falocentrismo falando alto, em que, quando a beleza e o prazer feminino não estão relacionados com uma figura masculina, são práticas condenadas, práticas que são combatidas na base da violência, seja ela psicológica ou física. Quem nunca conheceu algum caso de estupro corretivo, ou de ameaça desse tipo? A internet tá aí pra mostrar o tanto de ameaça em anônimo lésbicas recebem por serem lésbicas.

Enquanto a mulher negra for hipersexualizada, haverá motivo pra que eu me levante contra. Enquanto mulheres morrerem em abortos clandestinos porque não podem pagar por uma clínica, estarei aqui, de pescoço erguido, em busca da tão sonhada liberdade. Enquanto mulheres forem espancadas por seus pais, maridos, ficantes, seja lá o que for, eu estarei aqui demonstrando minha sororidade e minha resistência. Acredito que não estamos tão mal quanto nossas mães, porém sei que temos muito a conquistar. 

Oito de março, não é um dia de festa. É um dia de sangue.


Por Mariana Ney Prado (arrobamarilupus), 19 anos, estudante de Letras Português Francês da UFPel, de Pelotas-RS, dificuldade de entender ironias, passional, gosta de literatura e feminista, anticapitalismo sempre incluso.
Texto postado originalmente em Meninas das Colchas.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe a sua opinião sobre o post acima! Juro que não vai doer nada :)

OBSERVAÇÃO: Xingamentos ou comentários que fujam, completamente, do assunto tratado no post, serão DESCONSIDERADOS!

Obrigada e volte sempre! ;*

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...