Só mais uma.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Via.
Tô revirando os cacos. Uns pontiagudos, outros nem tanto, mas todos cortantes. Tô enfiando a mão inteira dentro da goela e aguardando pelo sufocamento final. Tô embaraçada. Desgastada. Despedaçada. E passam as horas, os dias. Nenhuma palha esbouça qualquer movimento. Pareço ter enraizado aqui: No marasmo. Não sei há luz. Não sei há trevas. Só enxergo a imensidão devastadora e isso me assusta. Não há nada.

Caminho perdida em mim, nos outros e afundando, cada vez mais, no caos. Sim, o caos, aquele que tão bem reconheço e trago fortes doses de sua bebida amarga. Sigo tragando a própria dor, como se fosse prazeroso sofrer e fazer doer. E também ''buscando um novo rumo que faça sentido nesse mundo louco com o coração partido.''

Às vezes, na maior parcela delas, só há preguiça de existir. É exaustivo. É decepcionante. Não tenho condições para tamanha proeza. Nem ao menos sei se quero possuir tais condições. Parecem emergir apenas os erros, os enganos, os tropeços. Talvez minha existência possa ser, perfeitamente, resumida em: De tanto cambalear, enfim, caiu. Porque cair aparenta ser o melhor remédio para sanar as feridas que corrói até o derradeiro átomo.

Mas como a teimosa reina firme e forte, cair (de vez) ainda não é o foco.

Uma relação interna e muito séria.

sexta-feira, 6 de junho de 2014


(ARQUIVO PESSOAL)

- No fim, vai ficar tudo bem, ela dizia. 
Eu, como de costume, não acreditava.

Mas ela queria que eu acreditasse. Insistia. Até batia o pé. Só que mais insistente era eu, o lado mais obscuro de nós duas. E ainda que eu esbouçasse um monossílabo sequer, ela sabia que eu gritava por ajuda. Uma corda me puxava direto ao fundo do poço. Puxava-me com uma força indescritível. Ela queria me salvar. Ela tentava. Eu resistia.

Ela me conhecia tão bem, que sabia que não poderia fazer nada ao menos que eu mesma desse o primeiro passo. Uma vez, alguém me disse que o mais difícil é sempre o primeiro passo. Eu sabia disso desde o início. Ela também. E nós duas seguíamos teimosas em uma luta que ninguém venceria.

Eu pairava numa corda bamba. Ela estava pronta para me amparar. Eu sabia que ela estaria lá para me segurar e, ainda sim, eu orgulhosa e crente que a dor era minha melhor amiga, continuava cambaleando. Mas ela é que era minha melhor amiga e eu recusava e dava às costas para a sua amizade tão pura e desprovida de segundas intenções. Ela só tinha ''primeiras'' intenções. Queria-me inteira e não despedaçada, como eu preferia ficar. Ah, lógico que ela conhecia muitíssimo bem (melhor do que eu até), o prazer que morava na minha dor.

Nós brigávamos todos os dias. Ela sorria descaradamente. Eu chorava copiosamente. Ela procurava me envolver. Eu afastava seus braços. Ela me acolhia. Eu me recolhia como uma ostra. Ela descomplicava. Eu complicava.

Ela insistia na luz no fim do túnel. 
Eu insistia no fim do túnel. 


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...