Contigo desci ao meu inferno

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Contigo desci ao meu inferno. Ao inferno da carne, do corpo em chamas por ti. Do eu e você em um único e incandescente fogaréu. Ao inferno que é perdição entre deuses e meros mortais, tão mortais assim como eu, que sou osso, palavra e amor.

Contigo, que fiz meu deus reencarnado em pele de sedução, me atrai aos céus, onde fisgada por tua beleza tão viva, vi meu reflexão confundir-se com as curvas despretensiosas que teu sorriso resplandecia no meu sofrido lago de paixões.

Nas águas incontroláveis onde repousei e ousei modernizar a poesia de outrora. Ousei falar de ti como jovem que pulsa e segue fervilhando. Ousei usufruir da imensidão de Afrodite. Reinventando a deusa de vestido e All Star. Reinventado assim como querer que amanhece e anoitece pairando sobre o pensamento teu.

Não sei mais se sinto ou vivo a te sentir tão pleno em mim. Inspiração te tornei assim que bebi da fonte inebriante da tua voz que partia a preencher todo o vazio mundano no meu ser rasgado em mil. Os mesmos mil poemas que te dedicaria sem receio algum. Essas palavras que não mais me pertencem. Palavras antes minhas, agora suas, assim como minha alma que clama e deseja descaradamente o ser tão poético e admirável que tu és aos meus olhos, esses olhos que estão a te despir sob a luz dessa tela de pintar versos que ecoam teu nome.

Professoras Dalu Menezes e Lenha Diógenes, MUITO obrigada pela inspiração e a oportunidade que a oficina dos deuses me concedeu. 

Coisa de pele

sexta-feira, 10 de outubro de 2014


Nosso caso é coisa de pele, meu caro.
Nosso lance é envolvente
Atraente
Você me atrai perdidamente.
Enlouquecidamente
Me vejo viciada na tua sedução.
Distorcidos estamos,
Em vultos e curvas.
Beijos que entorpecem.
Toques que acariciam.
No entrelace da madrugada 
Nos lançamos num só nó.
Não há necessidade de mais espaço
Somos coisa de pele.
Eu na tua.
Você na minha. 

Mais uma de mim cravada na pele

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Tô voltando pro blog. Não me deixem.
Sempre foi mais ''fácil'' falar sobre o que passa aqui dentro em primeira pessoa. Nunca me reprimi neste sentido e não pretendo fazer isso tão cedo. Nem que seja tarde, resistirei ao anseio de me perder aqui por dentro.

Eu me escancaro mesmo. Apesar de que, no fundo, sinto que isso pode me prejudicar. Exponho-me. Dilato meu ser até o último e insignificante poro. Sou muito assim, isso que mostro sem receio de aparentar um perfil, assustadoramente, ridículo. Talvez possa até parecer um ato de explícito egoísmo falar tanto de mim, mas como já repeti, incansavelmente, em inúmeros outros textos do tipo, falo de mim, porque de mim, eu sei e, ainda sim, aprendo todo o dia.

Mas sabe, eu me sinto bem. Eu me sinto. Toco-me por dentro. Chafurdo nas minhas entranhas em busca de algo que faça sentido. Vivo por aí querendo fazer sentido, mas a verdade, a mais sincera e ferrenha verdade, é que eu não preciso fazer sentido algum.

Estou bem por aqui. Estou seguindo. Estou sorrindo com mais frequência. Falando com os outros com mais tranquilidade, como se a proximidade alheia não me demandasse profundo esforço. Estou crescendo pelas minhas próprias pernas. E as coisas estão fluindo bem. Vou lidando melhor comigo e, consequentemente, com o que e quem me cerca. 

Estou melhorando. Manhã após manhã. Ainda dormindo mal. Ainda comendo mal. Numa vida nada saudável, mas não nada diferente do normal. Não, espera aí, tem sim, alguma coisa diferente. Talvez eu esteja amadurecendo. Virando adulta aos pouquinhos. Reafirmando minha força de mulher, sem largar meus sentimentos aguçados de menina. Aquela mesma menina que nunca esqueceu de escorrer lágrimas ao dedilhar palavras com toda a intensidade do ser. Não por tristeza, mas talvez porque minha alma-poesia não me engana.


Vem ficar sozinho comigo!

domingo, 31 de agosto de 2014

Da artista Mônica Crema.


Você debruçou sobre mim suas verdades mais intimas e ainda contou, ao pé do meu ouvido, aqueles tais segredos de liquidificador, como bem já dizia Cazuza.

Mostrou-me teu corpo nu de toda e qualquer vaidade. Tua face já não mais escondia o semblante de um menino feliz. Tua voz. Aaaah, tua voz, que eu quis logo fazer minha. Eu quis te envolver em meu peito e fazer soar da minha garganta, as mais sinceras juras de amor. Mas amor é uma palavra pesada para escorregar tão cedo por entre meus tão frios lábios. Vem e me esquenta? Corre pra cá, que eu escancaro as portas da minha alma e deixo você colorir minha imensidão cinza.

E ali éramos nós dois, num cantinho da madrugada, descobrindo um ao outro. Você sendo uma versão minha. Você sendo espelho. Eu sendo reflexo que sorri enquanto escorrem lágrimas dos olhos. E as lágrimas também estão sorrindo.

O tempo passou num piscar de existência. Quando dei por mim, parece que eu já te conhecia do começo ao fim. Mas você é ser inacabado. Você é como eu. Quando a gente pensa que desvendou, mais incógnitas surgem num inesperado redemoinho.

Passaram-se as horas. Os dias correram velozmente. Parecia pouco, mas a gente não se contenta com pouco. Somos sempre muito. Somos sempre mais. A intensidade do ser que permeia as entranhas daquele que sofre a cada batida do coração em chamas. Mas eu bati. Eu esbarrei minha vida na tua e ousei sonhar em ali, bem ali, levantar morada. Eu só queria morar no teu abraço. Viver no teu beijo. Eu disse em alto e bom tom: ''vem ficar sozinho comigo, vamos ficar sós, mas juntos''.

Lá fora.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

(Google Imagens/Reprodução)
A vida é linda lá fora? Não sei. Nunca vi. O máximo que enxergo é o que chega até mim pela janela entreaberta do meu quarto escuro. Só sei que chove, porque o barulho é inevitável. Só sei que faz sol, porque os raios quase me cegam. Mas não respiro o ar que transita lá fora. Sufoco aqui dentro. Falta-me o fôlego. Nem sinto o cheiro do que pulsa lá. Reclino-me ao miserável odor que paira nestas paredes. E são elas, estas mesmas paredes de branco manchado, que parecem ser mover rumo ao meu encontro. O aperto se expande. Busco por um mínimo resquício de ar, mas não há nada. Ar? Onde ele foi parar? O que sobra é apenas o desmanchar. Da pele. Do corpo. Da alma. 

Quando tento esbouçar qualquer tentativa para levantar, vou virando pó. Quando isso começou? Já fui inteira algum dia? É pesado. Tudo dói. Ninguém escuta meus gritos desesperados. A ilusão reina absoluta. Transformo a existência inóspita em vida, mas não há vida. Tudo acontece lá fora. Nada soa de verdade aqui dentro. A eterna corda bamba entre o viver e o existir. Então, levanto voo. Estou despencando. 


As palavras viram beijos.

sábado, 23 de agosto de 2014


Eu tenho uma mania terrível. A mania de escrever e poetizar pessoas. Mal as conheço e já quero desvendá-las. Mas tem que fluir a inspiração, o encantamento. Não que eu saia por aí me encantando com qualquer pessoa não, mas é que, vez por outra, aparece gente por quem vale a pena suspirar. E eu suspiro longa e pausadamente. Suspiro sem medo de ser pega no flagra. Então, me vejo sonhando acordada. Enveredando madrugadas, porque o pensamento nele não quer passar. E eu penso. Repenso. Preciso transformar em escrita todo o sentimento que transborda em mim. Logo, as palavras viram beijos. No fim, só escuto sua voz que cresce e me diz ''boa noite, amanhã a gente se fala.''

A gente só quer amor!

segunda-feira, 18 de agosto de 2014




No fundo, a gente só quer amor.
Pensar amor. Fazer amor. Viver amor.
A gente só quer um peito largo pra afanar a dor e alargar o coração.
A gente só quer um abraço demorado e uma voz pra dizer ‘tô contigo e não largo’.
Na real, é tudo por amor.
Para além da carne. Das entranhas. Da alma.
Amor que não tem hora. Amor que não demora.
Amor agora. Mais tarde. Lá fora.
Amor pra dançar em dia de tempestade. Amor pra chorar em dia de sol.
Só amor. Mais amor. Já basta. Por favor? 



Entre a poesia e a prosa de esquina

segunda-feira, 21 de julho de 2014

(fonte)
Transformei-me num ser adepto do inacabado. Não sei precisar em que momento exato isso aconteceu. Não me recordo do ano, da ocasião ou mesmo da força de vontade que acabou por esvair-se do meu âmago.

O que sei é que recrutei minha existência para esta estrondosa bolha que construí ao meu redor. Fiz do pacato, a minha rotina. Elevei a exaustão mental ao ápice. E agora, aqui estou para entoar poesia diante daquilo que age como navalha por dentro.

Sou os livros que ainda nem folheei. Sou as pessoas com quem não convivi. Sou as criaturas com quem me desgastei. Sou as noites que me encontrei, insistentemente, insone. Sou as conversas que não terminei. Sou os corpos que não ousei abraçar. Sou os lábios que procurei não beijar. Sou os ‘agoras’ que ficaram para os ‘amanhãs’.  Sou as realizações que deixei para os sonhos. Sou as realidades que empurrei para as ilusões. Sou as verdades mal digeridas. Sou as mentiras, mais ou menos, engolidas. Sou ‘o dentro’ que grita quando ‘o fora’ cala. Sou a boca que esperneia mesmo quando deveria silenciar. Sou da exaustão que não cede lugar ao dançar. Sou da sinceridade estampada que não troca de papel com a máscara levantada. Sou tanta poesia dilacerante impregnada de uma prosa dissonante.

Só mais uma.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Via.
Tô revirando os cacos. Uns pontiagudos, outros nem tanto, mas todos cortantes. Tô enfiando a mão inteira dentro da goela e aguardando pelo sufocamento final. Tô embaraçada. Desgastada. Despedaçada. E passam as horas, os dias. Nenhuma palha esbouça qualquer movimento. Pareço ter enraizado aqui: No marasmo. Não sei há luz. Não sei há trevas. Só enxergo a imensidão devastadora e isso me assusta. Não há nada.

Caminho perdida em mim, nos outros e afundando, cada vez mais, no caos. Sim, o caos, aquele que tão bem reconheço e trago fortes doses de sua bebida amarga. Sigo tragando a própria dor, como se fosse prazeroso sofrer e fazer doer. E também ''buscando um novo rumo que faça sentido nesse mundo louco com o coração partido.''

Às vezes, na maior parcela delas, só há preguiça de existir. É exaustivo. É decepcionante. Não tenho condições para tamanha proeza. Nem ao menos sei se quero possuir tais condições. Parecem emergir apenas os erros, os enganos, os tropeços. Talvez minha existência possa ser, perfeitamente, resumida em: De tanto cambalear, enfim, caiu. Porque cair aparenta ser o melhor remédio para sanar as feridas que corrói até o derradeiro átomo.

Mas como a teimosa reina firme e forte, cair (de vez) ainda não é o foco.

Uma relação interna e muito séria.

sexta-feira, 6 de junho de 2014


(ARQUIVO PESSOAL)

- No fim, vai ficar tudo bem, ela dizia. 
Eu, como de costume, não acreditava.

Mas ela queria que eu acreditasse. Insistia. Até batia o pé. Só que mais insistente era eu, o lado mais obscuro de nós duas. E ainda que eu esbouçasse um monossílabo sequer, ela sabia que eu gritava por ajuda. Uma corda me puxava direto ao fundo do poço. Puxava-me com uma força indescritível. Ela queria me salvar. Ela tentava. Eu resistia.

Ela me conhecia tão bem, que sabia que não poderia fazer nada ao menos que eu mesma desse o primeiro passo. Uma vez, alguém me disse que o mais difícil é sempre o primeiro passo. Eu sabia disso desde o início. Ela também. E nós duas seguíamos teimosas em uma luta que ninguém venceria.

Eu pairava numa corda bamba. Ela estava pronta para me amparar. Eu sabia que ela estaria lá para me segurar e, ainda sim, eu orgulhosa e crente que a dor era minha melhor amiga, continuava cambaleando. Mas ela é que era minha melhor amiga e eu recusava e dava às costas para a sua amizade tão pura e desprovida de segundas intenções. Ela só tinha ''primeiras'' intenções. Queria-me inteira e não despedaçada, como eu preferia ficar. Ah, lógico que ela conhecia muitíssimo bem (melhor do que eu até), o prazer que morava na minha dor.

Nós brigávamos todos os dias. Ela sorria descaradamente. Eu chorava copiosamente. Ela procurava me envolver. Eu afastava seus braços. Ela me acolhia. Eu me recolhia como uma ostra. Ela descomplicava. Eu complicava.

Ela insistia na luz no fim do túnel. 
Eu insistia no fim do túnel. 


A serpente que devora a cauda pra (re)começar.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ouroboros  é uma criatura mitológica em forma de serpente (...), que engole a própria cauda, formando um círculo e, por isso, simboliza o ciclo da vida, a eternidade, a mudança, o tempo, a evolução, a fecundação, o nascimento, a morte, a ressurreição, a criação, a destruição, a renovação.

A vida é um sopro, já dizia o poeta.

Sou de considerar mais a existência do que a própria vida em si. Existo para viver. Não vivo para existir. Aliás, a existência é toda um emaranhado complexo e, por vezes, incoerente. Sim, incoerente. Assim como a minha escrita que se debruça, solta e saltitante, nessas teclas e nessa tela vazia. Mas é de incoerências e imprudências, que construo pontes que me mantêm viva. Manter-se. Viva.

A cabeça pode até titubear. Tombo pra lá, tombo pra cá. Ergo minhas asas diante da imensidão do pensamento, da resistência. Porque viver é um um sopro, um voo. Sei que não preciso me fazer entender, porque só o que quero e necessito é escrever e escrever.

Falta-me muito para as nuvens. Sobra-me as palavras que fazem sombra às minhas ideias desgrenhadas. Ainda há luz. Há sol. Há cor. Há tudo o que é preciso para continuar. Falta-me eu mesma. Um rencontro com o que derramei por aí. Preencher as lacunas. Esvaziar o que for preciso ser esvaziado. Não há tempo, nem força, para excessos desnecessários.

A ordem é do destino. Ele manda, eu sou dona. Dona de mim. Do que sou hoje. Do que fui ontem. Do que almejo ser amanhã. Ninguém poderá ser capaz de me rasgar e me afundar ainda mais. Meus rasgos e minhas profundezas são egocêntricos, eles não aceitam outras unhas que não sejam as minhas.

O vento corre. A mente não cessa as voltas intermináveis. É hora de dar meia volta, nem que seja para recomeçar. Nem que seja do zero.

E tudo isso, só porque ando imersa pela vibe introspectiva do novo álbum da Pitty...


Petulante e só.

terça-feira, 20 de maio de 2014


via weheartit.
Meu corpo esconde uma solidão ainda mais profunda que o buraco negro que cresce na minha alma. As feridas são corpulentas e, por vezes, insolentes. As cortes são evidentes só para quem é capaz de olhar mais do que, simplesmente, olhar por olhar. Só para quem é capaz de observar por certo ângulo (quase) secreto.

Aos meus gritos de dor? Só restaram-lhes os próprios ecos. Contraio-me. Descompassadamente revivo quando milímetro do sofrimento já antes, tão bem, degustado. As cicatrizes estão cravadas em minha pele resignada a ser invisível. Por que ninguém consegue trincar as retinas em mim?

Irremediavelmente só. Partilhando, com o próprio ego, o gosto repugnante do vazio. Só por sentir-se só. As muralhas são levantadas ao meu redor e paira o silencia das multidões que lamentam, dia após dia, o permanecer multidão e nada mais que isso.

Reclino-me às palavras costuradas e pontilhadas com agulha sem dó. Só me sobraram elas e que elas fiquem, nem que padeçam e que apodreçam, mas que fiquem. A folha, até então em branco, é preenchida com meu horror pobre e solitário. Não me deságuo mais. Não por hoje. Não agora, pois estou realocando minha força petulante.

Não chore a minha dor. Não queira acabar com meu clamor desesperado. Eu sigo. Não ouse entender o que não pode, porque não fui feita para o poder. Apenas: Leia-me.



Vai mudar, porque é preciso mudar!

segunda-feira, 19 de maio de 2014

''Cada novo dia é uma nova chance para mudar sua vida.''
O blog DEScomplicando passará por algumas mudanças no que diz respeito ao seu conceito e conteúdo. Certa vez, li algo que a Paula Buzzo escreveu no perfil dela no facebook (não tenho mais o link do que foi exatamente, desculpem) e isso me fez refletir muito. Porque não adianta eu continuar me enganando e consequentemente enganando vocês.

 (essa é a hora que todo mundo começa AH, COMO ASSIM, ENGANAR HEIN?).

Deixe-me DEScomplicar: Esse blog não é para vocês. Na realidade, nunca foi. Eu quis ser outra pessoa, um tipo comum e corriqueiro de blogueira que diz que o blog dela é dos seus leitores para, assim, atrair mais leitores e fidelizar os antigos. Mas o DEScomplicando não é. Quem está por aqui, está porque gosta do que escrevo e eu agradeço, infinitamente, por isso.

(MAS, POR FAVOR, NÃO ME ABANDONEM, VOU CONTINUAR EXPLICANDO/DESCOMPLICANDO...).

Esse blog seria de vocês, se fosse sobre vocês. Mas não é. Isso aqui foi sempre sobre mim. Desde o começo. Desde sempre. Até depois do fim.

Está bem. Algumas vezes, tentei escrever e postar aqui como se fosse só mais uma adolescente querendo ter um blog na internet. Mas não deu certo, porque não me refletia de verdade. Não era eu, mas apenas mais um projeto tosco e mal produzido de alguém insistindo em ser o que não é.

O tempo me transformou. Eu me transformei no tempo. E está intragável permanecer em um espaço sem fazer a menor ideia do que estou, realmente, fazendo aqui ou (tentando) fazer. Assim, senti a desconcertante necessidade de mudar algumas coisas de lugar. Quem sabe repor umas prateleiras, transferir uma mesinha de cá para acolá, redecorar com outras cores, outros gostos, outros sabores, tirar a poeira encrostada, deixa a luz entrar, invadir e refletir.

As mudanças não acontecerão todas de uma vez, até porque a gente nunca para de mudar. Tudo será aos pouquinhos, como tiver e será, mas adianto uma baita novidade: Estou com um blog novo (de antemão: não vou abandonar o DEScomplicando por completo), experimentado o Wordpress e sendo (um pouco) subversiva e feminista por lá. Quer conferir? Clica aqui e vem subverter comigo também!

Beijos e até a próxima!

Sobre ainda doer e escrever sobre você.

sábado, 26 de abril de 2014


Ainda não sei por que raios eu deixei me inundar por esse sentimento louco que sinto por ti. Ainda dói. Ainda me corrói. Ainda aperta meu coração contra o peito. 

O que sinto é confusão. É contraditório. E não, não sei nem se é amor ou apenas desejo, mas sei que é forte e continua aceso aqui dentro. Mas vejo que você está em outra. Parece estar. Parece ter seguido em frente tão bem, que chego a te invejar por isso. Eu sei, eu sei... O que tivemos (ainda me pergunto se realmente ''tivemos'' algo só nosso) nem chegou a ser tudo de mais lindo que poderia ser e eu não consegui superar meu fracasso.

 Não estou cicatrizada. Ainda é ferida latente. Ainda é saudade incoerente.

Para provar o quanto ainda é verdade para mim: Ó, escrevi mais uma vez sobre você, quando tinha prometido, para mim mesma, que não iria mais escrever. 


Infinidade de querer.

sábado, 19 de abril de 2014


Eu queria chorar o mundo. Eu queria gritar a dor. Eu queria beijar tua boca. Eu queria o teu amor. Eu queria abraçar tua alma. Eu queria emoldurar meu peito no teu. Eu tanto quis que nada fiz. Eu tanto implorei, que só sofri.

Eu queria ser tua, mas antes preciso ser mais minha. Eu queria brincar, dançar de roda, pular corda. Eu queria subir em árvore. Eu queria deixar mais tempo o esmalte. Eu queria não ser igual a eles. Eu queria não me perder na multidão. Eu queria não ser mais uma. Eu queria não me abandonar na escuridão. Eu queria não me sentir desconfortável no clarão. Eu queria enfrentar o bicho papão.

Eu queria não me importar tanto. Eu queria não me colocar tanto aqui. Eu queria não falar tanto só de mim. Eu queria não sentir o peso do mundo em mim. Eu queria descarregar. Eu queria desopilar. Eu queria um ombro amigo. Eu queria alguém pra me escutar. Eu queria alguém pra me abraçar. Eu queria alguém pra me ver desaguar e não julgar. Eu queria.

Eu queria ser livre. Eu queria nada temer. Eu queria não ser tão dramática. Eu queria que não jogassem na minha cara meu drama. Eu queria não me machucar. Eu queria que não me machucassem. Eu queria não querer ser tão perfeita. Eu queria me aceitar. Eu queria me (re)conhecer.

Eu queria, por mim, me encantar. Eu queria parar de sofrer. Eu queria não ter tanta preguiça de viver. Eu queria não apenas sobre-viver. Eu queria. Ah, eu queria.

Eu queria parar de querer tanto e começar, enfim, a fazer valer. 

Menino-poesia.

terça-feira, 8 de abril de 2014



Menino-poesia,
Não te vejo,
Não te toco,
Mas a verdade
É que você me inspira.
Ah,
Como me inspira.
Vem e me transpira.
Me respira.

Menino-poesia,
Teu olhar carrega
A doçura do querer-bem.
Teu olhar me nega,
Me renega,
Me espera na espreita
Que a noite vem.
Ah,
Se vem.

Menino-poesia,
Tu faz poema
E ri da noite
Só com a ponta da boca.
Tu esconde
Uma malícia louca
E corre para o açoite.

Menino-poesia,
Te faço rima
Pra ver se o querer passa.
Te faço rimar
E te quero
Ainda sem graça.

Menino-poesia,
É tarde,
Chove
E troveja lá fora
Aqui dentro,
Faz calor
E te fazer minha poesia,
Me revigora.

Menino-poesia,
Volta,
Fica,
Gruda em mim
Vamos fazer poesia
E nós unir
Num mesmo sim.



Sobre o bem-querer e o nada ter.

domingo, 6 de abril de 2014



Já nutri muitos amores, infinitas paixonites crônicas e inúmeros foram os sorrisos que me fizeram sorrir junto. Mas só sorri afastada. Não sorri colada nas bocas que clamavam pelos meus lábios alvoraçados. Sorri calada, na minha. Amedrontada ainda sou e isso corrói meu calor.

Sempre fui de amar de longe, escondida e sozinha. É verdade. Sou mais da solidão do que do amor romântico. Sou mais minha. Sou menos da entrega ao outro. Não me encaixo nos clichês de love story, mesmo que, por (muitas) vezes, continue sonhando em tê-los em minha pacata vida. Pacata ira.

Eu engulo minha amargura e morro por dentro. Eu me sufoco, aos pouquinhos e lentamente, quando não me permito amar e conhecer a beleza do bem-querer no outro. Porque meu bem-querer chega a querer só de longe, insinua, mas nada faz e nada tem. Passam as horas, os dias, a vida e me deparo com meu bem-querer encontrando o querer corajoso de outro alguém. Daí sofro mais, choro mais... Me transformo em pura dor. E aí o ciclo recomeça e meu bem-querer já embolou.

O menino-poesia e a menina-não-faz-sentido.

sábado, 5 de abril de 2014

Daqui.
Ô, rapaz... Acho que é assim que vou te chamar a partir de agora. Tudo bem para você, não é? Para mim está tudo ok, porque até sonhei com você. Sim, sou dessa gente que sonha e sonha até não aguentar mais. Sou pisciana, você sabe e conhece bem esse signo que deságua em sentimentos. Mas eu nem sei explicar direito porque passei a madrugada sonhando com você. A gente sequer se conhece ou se (re)conhece. E precisa?

O que posso dizer é que me encantei. Está bem, me confesso. Também sou dessa gente que se encanta fácil. Mas é que eu, simplesmente, me encantei por esse teu jeito de menino-poesia. Teu andar canta Chico Buarque noite e dia. Teu sorriso ecoa música boa, daquela que a gente ouve e vai seguindo e achando graça pro sol, pra lua, pra vida. Rapaz, você me jogou alguma feitiçaria? Tira! Tira!

Aaaaah... por que raios eu tinha de sonhar logo contigo? Se eu já tenho tendência para o fracasso no bem-querer, imagina se eu começo a gostar de você? Não dá. Não é possível.
O menino-poesia fez chover encanto na menina-não-faz-sentido.

Idiota fui eu.

sábado, 22 de março de 2014



Idiota fui eu que ousei acreditar nas tuas ''juras de amor''. 
Injúrias da carne que dilaceram meu peito até hoje. 
Idiota fui eu que entreguei meus sentimentos pra ti, de bandeja, e você os ruminou. 
Idiota fui eu que sigo me entristecendo com a tua indiferença desmedida. 
Idiota fui eu que caí na tua teia e você ainda ri da minha cara que chora.
Idiota fui eu que ouvi músicas melosas e sonhei com o ''nós.''
Idiota fui eu que até pensei que a gente daria certo.
Idiota fui eu que ficava feliz com tuas ligações noturnas.
Idiota fui eu que sorria largada ao ouvir tua voz.
Idiota fui eu que ficava feliz até quando me chamava, todo o dia, na janelinha azul.
Idiota fui eu que deixei crescer, em meu coração, um querer enorme por ti. 
Idiota fui eu que escrevi sobre você com todo o carinho do mundo.
Idiota fui eu que ainda escrevo sobre você e sobre meu peito que continua a doer.
Idiota fui eu que desejei teu corpo, tua alma e teu coração. 
Idiota fui eu que me deixei atrair.
Idiota fui eu que me deixei iludir. 

Idiota sou eu. 
Mas eu estou cansada até pra ser idiota por você e para você.

8 de março: Nós, à venda e para venda.

domingo, 16 de março de 2014


Olá, minhas leitoras e meus leitores! Então, só para avisar que este texto logo abaixo é o último da série de postagens especiais sobre 8 de março + Feminismo (expliquei como seria aqui). Ao todo foram 8 textos lindíssimos (contando com o meu texto e a minha humildade, desculpa rs), cheios de discursos que merecem ser ouvidos e que, no decorrer da semana que passou, ganharam seu devido espaço no blog DEScomplicando. Assim, só posso agradecer e agradecer mais ainda por todas as mulheres feministas que aceitaram meu convite para participar deste momento. Obrigada mesmo! Myka, Wanessa, Mariana, Graziela, Bianca, Thaís e Danny: Vocês não sabem a honra que foi, para mim, contar com a palavra de vocês por aqui. Vocês DEScomplicaram pra valer \o/
E para conferir TODOS os textos, basta clicar aqui. Beijos da Lene!
Foto: Reprodução.
Passado o oito de março tudo parece ter uma “volta ao normal”, faz-se parecer que todos os desejos de felicitações, flores, faixas e bombons foram o bastante para agradar às mulheres em “seu” dia. Foram?

Pode-se classificar como “normal” o que é aceito pelo senso comum, mas a verdade é que esse senso de normalidade é a doença do pensamento social. O 8 de março vem sendo aproveitado como algo puramente comercial, mais um dia de vender mulheres, seja na propaganda de perfume ou de chocolate, tomando como exemplo uma frase que ouvi num seminário recentemente “nós, mulheres, vendemos tudo”. Seja num anuncio de carro ou cerveja, mulheres com a beleza padronizada vendem de tudo.

 “Ah, mas falar que estão vendendo mulheres não é um exagero?” Não, não é; e eu poderia falar mais por que se vende não somente a mulher, mas vende-se um padrão que é comprado e banalmente utilizado em detrimento de milhões. Este padrão, entre outras generalidades, leva pessoas a não aceitarem a si mesmas. Este padrão leva a monstros gritando “gostosa!”, assobiando, entre outros tipos de desrespeito; e este mesmo senso monstruoso é capaz de assediar crianças e aliciá-las, é capaz de traficar seres humanos e explorá-los.

Então, digo não; faixas, flores e bombons não foram o bastante e o dia da mulher não é apenas o 8 de março, dia da mulher é dia de luta e dia de luta é todos os dias, nós não temos ou mal temos o que comemorar. Desde que o mundo é mundo, mulheres são abusadas e tratadas como seres inferiores; diariamente vendidas ou utilizadas para venda em detrimento de outras, vendidas por um padrão rotativo que muda periodicamente. Nas ruas vê-se pluralidade e a beleza usada para vender nem sempre obedece a uma estrutura diversificada. E se torna ainda mais plural em se falando das mulheres trans que sim, são mulheres como qualquer outra.

O machismo grita desrespeito e violência, chega a ser desumano, mas ainda há quem ache necessário. Então, declaro não somente o 8 de março, mas todos os dias como dia de luta. Dia de buscar direitos, não somente da mulher, mas igualdade entre todos. Por fim, se ainda permanecem dúvidas, existem feminismos diversos, mas a única ideia que reina a mim é de igualdade. Então, vamos dar as mãos e seguir a luta, pois esta é de todxs.


Por Danielly Lima de Oliveira, 19, universitária, da capital cearense, orgulhosa, exagerada e como definir uma pessoa que se arrisca pra algumas coisas, mas tem medo até de filmes de terror?
Danny tem um blog super legal chamado Mais Cafeína


8 de março: Receber essas flores hipócritas não me sensibiliza mais.


Durante a infância, os educadores da minha turma nos preparavam para o oito de março com o intuito de que confeccionássemos flores no colégio e dar de presente para as mulheres da nossa vida. Geralmente eram as responsáveis por nós. E sempre que oferecemos aquelas flores ou demais presentes em seguida dizíamos um "Feliz dia da mulher, parabéns". 

Além de nunca ter passado disso, eu não sabia que estava parabenizando vítimas de abuso e pessoas historicamente oprimidas. E quanto mais eu crescia, mais os professores de todas as minhas turmas me ensinavam que esse dia era especial e que deveríamos parabenizar as mulheres. Cresci e fui parabenizada também. Com ironia, às vezes com deboche e com alguns abraços. Mas ninguém se questionava sobre o motivo dessa data. Além de não fazer sentido ser parabenizada, isso sempre foi feito na maioria das vezes por pessoas que nunca entenderam de fato o motivo de reivindicarmos respeito o tempo inteiro. E assim eu aprendi. Assim se tornou automático até que eu aprendesse que ser mulher não me faz querer receber os parabéns.

Não quero ser parabenizada por ser vitima de um sistema que me inferioriza todos os dias. Isso não me convence que o oito de março foi feito para que eu receba flores e no dia seguinte seja desrespeitada e presencie desrespeito. Sua flor, seu presente ou suas congratulações não adiantarão NADA se você continua culpabilizando mulheres pelas agressões que elas sofrem. Se você acha que defini-las como "santinhas" ou como "rodadas" influenciaria de alguma forma no caráter delas. Não adianta me dar os parabéns se você acha que é dono do corpo que você julga como sua propriedade. Se você não entende que mulheres são donas de suas próprias escolhas ou se você ainda diz que mulheres precisam se dar o VALOR já que quem costuma fazer o contrário MERECE ser violentada.


Seus parabéns não me comovem se você acha que todas as mulheres devem engolir suas investidas porque elas não podem recusar. E se aceitarem, são promiscuas. Não servem para nada além disso, não é mesmo? Já que esse é o papel delas. 
Porque ter o direito de explorar o meu próprio corpo só existe se um homem me permitir fazer o que posso ou o que não devo. Um parabéns vindo de alguém que acha que necessito de aprovação para ser quem sou não me deixa feliz por ser mulher. 

Por isso, receber essas flores hipócritas não me sensibiliza mais.




Por Thaís Almeida, que sente que seu nome real é o seu apelido Jezabel (arrobaanacronizada), 20 anos de idade, do Rio de Janeiro-RJ, planeja uma carreira como psicóloga e nenhuma palavra definiria o suficiente alguém que está em constante desconstrução.
Texto postado originalmente no Facebook da Thais.



8 de março: Flores? Só se forem de luta, de peleja.

terça-feira, 11 de março de 2014


"FLORES?
Flores neste dia?
Só se forem de luto, de tristeza
Só se forem de luta, de peleja.

Felicitações no dia 8 de março?
Só se forem por decisão
Por resistência, pela coragem!

Sorrisos neste dia?
Só se forem de vitórias árduas
De conquistas, de liberdade!

Gritos no dia 8?
Só se forem de autoafirmação
Ou se forem de negação à dominação.

Que as celebrações deste dia sejam para brindar os ganhos
Mas sem esquecer, jamais, que ainda há muito o que se fazer e buscar.

Que os discursos deste dia sejam sinceros
Que este nojento machismo nos deixe em paz
Que o falso moralismo se consuma e desapareça.
Se desfaça e se dissolva com o puritanismo que em nada nos acrescenta,
Isso que nos é desnecessário.

Flores neste dia?
Só se forem vívidas e muito perfumadas
Só se forem de doçura, de encanto!

Gritos no dia 8?
Que sejam de libertação
De negação à exploração
De rejeição à submissão.

Que este dia sirva de espelho para todos os outros dias
Que não se confunda igualdade de gênero
Com falta de romantismo
Com falta de cavalheirismo.

Que não se confunda igualdade de direitos
Com embrutecimento do feminino.
Que este dia 8 reflita em todos os outros dias
Que a luta nos faz mais fortes
Mas não nos deixa menos belas!

Ao contrário.
Que todas e todos entendam que quanto mais luto mais floresço!
Que quanto mais suo nestas batalhas 
Mais me sinto mulher!

Canções neste dia?
Que não sejam mais de agonia ou tristeza
De amargura ou de dureza.

Que todos e todas entendam
Que a luta reafirma minha identidade
Que não é o batom ou o salto alto que me torna mais feminina
Que não é ter parceiro ou parceira, filhos ou casamento que me define mulher!

Felicitações neste dia?
Só se forem verdadeiras
Com respeito e dignidade.

Sorrisos no dia 8 de março?
Só se forem de esperança, de confiança
Só se forem acompanhados de determinação
De ideias e de ação!

Flores neste dia?
Que sejam para perfumar o caminho
Os cabelos, os sonhos, a vida!

Vermelho no dia 8?
Que não seja de sangue, que não seja de dor.
Que não seja de opressão ou segregação.

Que o vermelho neste dia
Seja de amor, de ternura, de bravura
Que seja forte, que seja de paixão!!!"


Por Bianca Ribeiro, estudante e artesã, de Fortaleza-CE. Decifra-me. 





8 de março: God save the queer - o dia da mulher numa visão não-binária.

segunda-feira, 10 de março de 2014


Hoje eu me vejo como mulher. Não somente hoje, mas durante os 19 anos que vivi. Desde sempre vi a imagem de ser mulher por uma ótica inconformada. Quando era pequena, usava as roupas do meu irmão e as maquiagens da minha mãe. Brincava e corria, sujava meus vestidinhos e adorava camisetas listradas e largas. Apontavam que eu era bruta, que eu não sabia ser feminina. Não me conformei nunca com isso. Cresci e continuei no mesmo exercício, que com o passar dos anos se desenvolveu a questionar todo tipo de agressão patriarcal. “Não é justo que mulher tenha que fazer certas coisas. Não é justo que mulher tenha seus direitos cerceados. Não faz sentido mulher ser desrespeitada, muito menos ser morta por simplesmente existir.” Mas nos últimos meses provei na carne uma das maiores injustiças: a sociedade ter de dar um selo de aprovação para conceder alguém o “ser mulher”. A mulher não se define pelos genitais. Para ser mulher, não é preciso usar batom, tão menos saia. Não precisa ter buceta, não precisa ter uma voz delicada. Existem mulheres de barba, existem mulheres com pinto, existem mulheres onde nós sequer imaginamos pois vivemos numa sociedade não só patriarcal como cissexista. A maior agressão de todas é definirem nosso gênero antes mesmo de podermos pensar por nós mesmos. A maior agressão de todas é a normatização do termo “sexo biológico”. A partir do momento que você nasce, a sociedade espera que você aja de tal modo. Quem se descobre trans* no meio do processo está fadado. Fadado a sofrer múltiplas e infinitas restrições de direitos básicos, de respeito, de amor, de compreensão. Fadado ao apagamento, esquecimento, marginalização, silenciamento. Somos discriminadas, discriminados, discriminadEs por sermos quem somos. A maior guerreira é a mulher trans*. Sim, trans com asterisco. Pois mesmo dentre as identidades trans* existe um apagamento GIGANTE das identidades que fogem do binarismo de gênero, o “clássico” homem e mulher. Durante toda minha vida sofri um questionamento sobre o que eu era, nunca obtive resposta. Nossas identidades são silenciadas, nossa vivência, horrorizada. Hoje me classifico como gênero fluído, um tipo de identidade não binarista. Isso quer dizer que me vejo hora como homem, hora como mulher. Agora vocês me perguntam: o que a mulher tem a ver com pessoas trans*, inclusive as não binárias? Simples: todes nós temos nossos gêneros marginalizados, de uma forma ou outra. A mulher é marginalizada pois tratam-na como objeto, subjetiva ao homem. As pessoas trans* são marginalizadas, pois aos olhos da sociedade nós não existimos. A mulher cis sofre feminicidio para a manutenção do poder patriarcal. A mulher trans* sofre feminicidio por existir. Por ter sua identidade transformada em abominação. O mesmo com pessoas não binárias. A partir desse pensamento bem resumido, não seria necessária uma UNIDADE para combater o CIStema? Pois o patriarcado se mostra perigoso, mas tão perigoso quanto ele é o cissexismo, é o binarismo. O patriarcado subjulga as mulheres; o cissexismo agride as pessoas trans*; o binarismo é tão posto que é como se simplesmente não existíssemos. É sobre o que menos se fala dentro do movimento feminista como um todo. Fui feminista por 5 anos e só ano passado descobri sobre identidades não binárias. Eu sou homem, eu sou mulher. Eu uso maquiagem, uso roupas “masculinas”, uso vestido quando sou homem, uso bermuda e regata quando sou mulher. Uso o que eu quero quando tenho vontade, e isso não define minha identidade de gênero. O que vestimos, como aparentamos não tem nada a ver com ninguém a não ser nós mesmos. O cissexismo tem que acabar, o binarismo tem que acabar. Pessoas são invisibilizadas por isso. Quantas mulheres trans* existem no mundo, sem saber que são mulheres simplesmente pq gostam da sua barba, do seu pênis, do jeito que veste? Nossas identidades vão além da aparência. Nós somos o que nós falamos que somos, e não o que determinam que somos. E eu determino que mesmo gênero fluido, sou mulher e não saio da luta. Todo o meu amor, todo o meu apoio aos gêneros marginalizados: as mulheres cis, as mulheres trans*, homens trans*, genderqueers e etc. Juntes nós conseguiremos acabar com toda a opressão. A revolução será intersseccional, transfeminista ou não será.


Por Graziela Magnani Gatti (arrobaaocaleidoscopio), 19 anos, estudante de artes visuais, de São Paulo - SP. Genderqueer, brejeiro e beyhive.
Texto também postado no blog da Myka.

8 de março: Não é um dia de festa.

Olá, leitores e leitoras do blog! Vim aqui para dizer que gostaria de pedir desculpas, pois ontem não foi possível postar nenhum texto do especial sobre 8 de março. Espero que compreendam. Mas hoje, prosseguiremos com essa iniciativa, que irá também continuar acontecendo no decorrer dessa semana. Obrigada pela atenção e tomara que vocês acompanhem tudinho!!! Beijos e abraços da blogueira do DEScomplicando, Lene Santos. 

Indiretas Feministas.
Para que serve o feminismo? Tem sempre alguém abordando feministas em busca desta resposta. Sempre alguém faz essa meio retoricamente, com um sorrisinho de desprezo nos lábios, geralmente cheio de privilégios, com a resposta na ponta da língua. Muita gente escreve sobre o assunto. Eu por um tempo me neguei a fazê-lo por achar que talvez o que eu tivesse pra dizer fosse já dito por muita gente. 

Pensando na condição da mulher historicamente: a opressão à mulher tem na sua base a ideia de capital. O capitalismo legitima toda e qualquer opressão através da ideologia, que é o que regulamenta com regras de conduta o que é aceitável ou não. Igreja tem grande poder nisso, todos e todas nós sabemos disso. 

Desde que nos conhecemos por gente nos deparamos com situações opressivas que só dizem respeito ao que o patriarcado chama de mulher. Meninas devem se vestir do jeito x, falar do jeito y, sentar de pernas fechadas, não podem andar com meninos nem ficar muito próximas a eles. Isso se intensifica ao longo da vida, quando então mulheres são moças, e moças devem ser respeitáveis, agirem como suas avós 
geralmente pregam, mas não o fazem, e pregam não porque se beneficiam do machismo internalizado, mas porque não contestaram essas coisas, mas porque são justamente alienadas pelo patriarcado o suficiente para fazê-lo assim. Ah, a liberdade sexual feminina e tudo o que diz respeito ao corpo feminino. Quem nunca ouviu falar que mulher que não se depila é nojenta? Quem nunca viu ninguém jorrar gordofobia como um gosto estético somente, não um doente padrão imposto pelos meios de comunicação e indústria da moda? Sabemos que crianças reproduzem esses valores, sabemos o quanto é difícil superá-los. Por isso o feminismo existe. 

O conceito de gênero dentro do patriarcado é uma coisa que me incomoda imensamente. Mulheres trans não são mulheres o suficiente porque têm pênis, mas não são homens o suficiente porque são afeminadas. Sempre esse binarismo escroto que deixa todo mundo louco em busca de encaixe, e eu tô falando de sobrevivência mesmo, de não ser agredida na rua, de conseguir arrumar um emprego pra comer e não ter que fazer o que a maioria das mulheres trans têm de fazer: se prostituir.

A prostituição é uma coisa que me deixa extremamente intrigada. Dentro do que eu entendo de mundo, não passa de estupro pago. Cultura do estupro: quem nunca ouviu ninguém dizendo que fulana merecia ter sido assassinada pelo marido/ficante/casinho porque o traiu? Ou fulana que saiu de saia curta na rua, que merecia também, porque a culpa é dela se ela “instigou” desejos masculinos, que, é claro, estão sempre em primeiro lugar. A violência machista naturalizada é um dos pilares da ideologia burguesa. 

A monogamia compulsória, junto com a heterossexualidade compulsória,  de quebra, que amassa a possibilidade das pessoas de se relacionarem como for mais agradável a elas também está aí pra nos mostrar o quanto o feminismo é necessário. Feminismo não somente diz respeito à sexualidade livre reivindicada, mas a espaços historicamente negados a nós dentro dessa sociedade que é por essência misógina. O que é misoginia mesmo? Misoginia é o ódio indiscriminado por mulheres, culpabilização das mesmas. Quem nunca ouviu que mulher é “bicho incapaz de ter relações de amizade entre si” quando na verdade essa competitividade é imposta por essa estrutura de poder já que o que sempre está no centro de tudo é o homem?

A lesbofobia em todos os lugares possíveis, com pais pedindo a suas filhas que sejam qualquer coisa, até, putas, menos lésbicas, porque isso é uma vergonha imensurável, uma lástima,  o fim da humanidade? É o falocentrismo falando alto, em que, quando a beleza e o prazer feminino não estão relacionados com uma figura masculina, são práticas condenadas, práticas que são combatidas na base da violência, seja ela psicológica ou física. Quem nunca conheceu algum caso de estupro corretivo, ou de ameaça desse tipo? A internet tá aí pra mostrar o tanto de ameaça em anônimo lésbicas recebem por serem lésbicas.

Enquanto a mulher negra for hipersexualizada, haverá motivo pra que eu me levante contra. Enquanto mulheres morrerem em abortos clandestinos porque não podem pagar por uma clínica, estarei aqui, de pescoço erguido, em busca da tão sonhada liberdade. Enquanto mulheres forem espancadas por seus pais, maridos, ficantes, seja lá o que for, eu estarei aqui demonstrando minha sororidade e minha resistência. Acredito que não estamos tão mal quanto nossas mães, porém sei que temos muito a conquistar. 

Oito de março, não é um dia de festa. É um dia de sangue.


Por Mariana Ney Prado (arrobamarilupus), 19 anos, estudante de Letras Português Francês da UFPel, de Pelotas-RS, dificuldade de entender ironias, passional, gosta de literatura e feminista, anticapitalismo sempre incluso.
Texto postado originalmente em Meninas das Colchas.




8 de março: Parabéns não, por favor!

sábado, 8 de março de 2014

Daqui.


No dia internacional da mulher, troque o parabéns pelo sinto muito. Sinto muito por você não poder andar na rua sem ouvir grosserias nojentas. Sinto muito por você não poder dirigir sem sofrer com piadas preconceituosas sobre mulheres no volante. Sinto muito pelas estatísticas de feminicídio, a maior parte causadas por ex-companheiros. Sinto muito por você todo dia ser bombardeada por padrões de beleza inalcançáveis e ainda ser denominada de fútil pela insegurança causada. Sinto muito que uma data criada pra ser um momento de reflexão virou pretexto pra vender sapatos. E, em tempo, os setores nos quais a maioria é composta por mulheres são os que pagam os salários mais baixos, mas toma aqui uma rosa pra compensar.





Por Wanessa Bentowski (arrobawanessab), 24 anos, redatora, de Fortaleza. Praticamente inofensiva.

Texto postado originalmente no perfil de Wanessa no Facebook

8 de março: Das coisas que o calendário não conta.

Durante essa semana eu gravei um vídeo sobre o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Falei ali algumas coisas mas certas pautas devem ser repetidas em todos os espaços possíveis.

Quando eu era criança, voltei muitas vezes da escola com uma flor de papel crepom e um cartão escrito FELIZ DIA DAS MULHERES com lápis cor-de-rosa. Chegava em casa e saía com meu pai pra comprar um sapato ou outra coisa que minha mãe pudesse gostar. Cresci então com a ideia de que era um dia de alegria, um dia pra eu saber como era legal ser mulher e aquelas moças que morreram carbonizadas na fábrica há muitos anos atrás significavam que eu não precisava mais me preocupar por ser menina, elas tinham sofrido pelas que viriam. Aí no início da vida adulta me deparei com o feminismo. Quando a gente tropeça na pedrinha da consciência, cai, rala o joelho e não quer remédio ardente. A gente quer é uma calçada que preste. Percebi que aquelas mulheres tinham sim um peso importante pra todas as outras que viriam: elas morreram lutando por direitos, e quantas de nós ainda morrem hoje pela falta deles? Quantas de nós morrem nas mãos de companheiros violentos, de abusadores impunes? Por vezes morremos nas nossas próprias mãos, pra ter algum alívio. Um dia em um ano. Um dia em que nos dão rosas, chocolates, presentes, elogiam nossa essência em um comercial de perfume, e esperam que nós fiquemos felizes. Um ano inteiro de padrões, cobranças, mortes, surras, racismo, lesbofobia, bifobia, misoginia, transfobia… Vítimas sendo culpadas, muita homofobia motivada pelo machismo… Um dia pra nos dar flores e nos parabenizar por algo que querem que sejamos.
Dia da Mulher não é um dia de festejar, é um dia pra se apontar a dor. Não se pode desejar ”feliz dia da mulher” pra nós se felicidade é um estado no qual raramente estamos inseridas quanto aos direitos. Não estamos felizes quando nos negam direitos reprodutivos. Não estamos felizes quando nos culpam pelos abusos. Não estamos felizes quando nos cobram corpos que mudam de acordo com a necessidade do capitalismo.  Não estamos felizes quando o tamanho da nossa saia decide se um estranho é culpado ou não por ter nos tocado sem a nossa permissão. Não estamos felizes quando mulheres que amamos são demitidas do emprego quando engravidam. Não estamos felizes quando recebemos nosso holerite. Não estamos felizes com rosas sendo compradas e entregues por mãos que nos tocam no trem lotado. Não estamos felizes com a igreja e o governo decidindo se devemos ou não ter filhos. Não estamos felizes e não vamos ficar só por receber uma rosa no dia 8 de março.
Não estamos felizes quando nossas crianças estão aprendendo na escola que dia da mulher é só pra dar parabéns pra mamãe, por lavar a louça e cuidar do papai. Ou pra dar parabéns pra irmã mais velha, por trabalhar o dia todo com saltos imensos nos pés, mesmo que ela chegue todos os dias em casa reclamando da dor, mas a empresa exige ”elegância.” O calendário te mostra o dia da comemoração, mas não te conta a história e não te atualiza do presente.  Eu estava feliz levando aquela rosa de crepom pra minha mãe por achar que ser mulher era maravilhoso. E até é, mas não nesse mundo. Não hoje.
Por Myka Poulain (arrobagatogenesio), 22 anos, estudante de Ciências Sociais. de São Paulo-SP, ativista dos maus costumes e feminista petulante.
Texto postado originalmente no blog Não MyKahlo.

Nada de comemoração, mas um dia para reafirmar a nossa luta!

Indiretas Feministas.

Caso a maioria ainda não saiba, eu me assumi como feminista no fim de 2012 e desde então, tenho percebido muita coisa que antes, meus olhos tapados pelo forte e rígido sistema patriarcal, não me permitiam enxergar, mesmo que tudo estivessem ali, bem na minha cara.

Então, o básico que aprendi desde então é que o famoso ''dia internacional das mulheres'' (hoje, 08 de março) não é bem um dia para comemorações, flores, faixas, bombons e os superficiais e hipócritas desejos de ''feliz dia das mulheres'' (principalmente, aqueles vindos de gente que produz e reproduz machismo o ano in-tei-ri-nho).  Porque não precisamos da hipocrisia de um sistema que nos oprime, nos silencia, nos estupra (em todos os sentidos impossíveis e inimagináveis) e faz de tudo para pisotear em nossa autoestima, anular nossa existência, fazendo com que nós, mulheres, acreditemos que somos inferiores aos homens, apenas por sermos: Mulheres.

POR FAVOR, NÃO CAIA NESSA CILADA! VOCÊ É IMPORTANTE!

Parabéns, presentinhos, lembrancinhas e sorrisinhos não nos bastam. Mesmo que eles jurem o contrário, não somos tolas. No fundo, sabemos que o 8 de março é mais um dia de luta contra a opressão que as mulheres sofrem desde que o mundo é mundo.

Em resumo, gostaria de dizer que o Feminismo (sim, o movimento mais odiado e não compreendido pela maioria) é a mais forte ferramenta de resistência que nós, mulheres, temos diante de todo esse caos repleto de machismo, racismo, homofobia, transfobia, lesbofobia, gordofobia, bifobia etc em que somos obrigadas a sobreviver todos os malditos dias. 

Porque o Feminismo é sobre sobrevivência. NÃO É O CONTRÁRIO DO MACHISMO. NÃO É SOBRE MULHERES QUERENDO SER MELHORES QUE OS HOMENS. Feminismo é sobre revolução. É sobre luta. Sobre os direitos das mulheres em não se sentirem desconfortáveis em seus próprios corpos.


E não sei vocês lembram, mas ano passado, o blog DEScomplicando montou um especial sobre o 8 de março (clique aqui e confira!), com textos de algumas convidados sobre temas com temática feminina. Mas como mudei minhas concepções e aprendi bastante de lá pra cá, esse ano, pensei fazer algo um pouquinho diferente e maior. (Nossa, que ousada!)

Sendo assim, convidei algumas feministas lindas e companheiras de ativismo da internet (Danny e Wanessa estarão aqui pelo 2º ano consecutivo, olha que lindeza) para escreverem a respeito de tão fatídico dia...

Ok, confesso que não me programei com antecedência, mas pretendo postar dois textos ainda hoje e os outros no decorrer da próxima semana. Todos os textos que serão postados aqui no DEScomplicando têm a sua devida importância e validade, pois nenhuma mulher merece ter seu discurso de luta silenciado. Afinal, infelizmente, isso já é tarefa do patriarcado.

Espero que acompanhem tudo que está por vir! Obrigada pela atenção ;)



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